No princípio dos tempos e além do espaço está a primeira imagem de Deus. O tempo e o espaço e tudo o que eles contêm são esta Idéia se revelando e a ela unidos através da livre necessidade”. (Jose Gorres, História Mística do Mundo Antigo)
O espaço, segundo o dicionário, é uma grande expansão ilimitada ou indefinida na qual estão colocados todos os objetos materiais e ocorrem todos os acontecimentos. De acordo com esta visão, o espaço é como um fundo teatral sobre o qual se vê o desenrolar do drama da manifestação. Sua própria natureza ou qualidade não está constatada e é visto geralmente como um vazio vasto e desolado, virtualmente desprovido de vida alguma ou de qualquer significado.
Nossa época vê a exploração astronômica do espaço e traz a visão estendida dos telescópios situados fora da atmosfera terrestre, revelando e documentando galáxias distantes e o nascimento de estrelas. Esses vislumbres da vida fenomênica do espaço têm alterado nossas percepções e nos têm levado a ver o próprio espaço mais como uma terra desconhecida justamente no limite do descobrimento, e não tão diferente da “fronteira final” da ficção científica. De fato esta visão se aproxima da compreensão mais esotérica do espaço como um corpo coerente de energias incomensuravelmente extenso, uma encarnação divina de tudo o que existe.
O espaço pode ser entendido como um receptáculo de tudo que tem o potencial de aparecer – tanto do que já é conhecido como do que está além da nossa percepção. Embora o conceito de espaço normalmente nos induz a pensar em “espaço exterior”, também inclui o “espaço interior”, tão sutil e difuso, com suas energias que geralmente não percebemos. “A realidade”, parece, deve ter alguma forma particular ou distintiva se quisermos entendê-la como tal.
A ciência confirma a necessidade de algum tipo de enfoque e, sem esta capacidade de selecionar e concentrar, tanto o olho como a mente são confundidos. Este tipo de limitação é essencial, se vamos ser capazes de sentir e de encontrar significado naquilo que observamos. Em parte, é o tempo que realiza esta função de ruptura da realidade em fragmentos assimiláveis e que nos permite explorar as relações. Ganha-se, assim, experiência e uma apreciação que evolui continuamente sobre a grande Vida que a tudo envolve.
Esta trama e contextura de experiência está formada pela ação combinada de tempo e espaço, as ferramentas artísticas da criação, atraindo os potenciais ocultos do Plano divino para a luz da realidade que se percebe. É aqui onde a meditação é vital, porque a mente é o agente criativo que habilmente dirige a energia por meio do pensamento. No incessante ritmo febril da vida moderna, é a meditação que cria e preserva este “espaço vazio” aparentemente em perigo. O lugar do silêncio no qual podemos nos desviar daquilo que é, e registrar as insinuações sutis daquilo que está por ser.
Esta criação de espaço é a base de toda a meditação: precipitar energias de acordo com o Plano divino requer quietude e reflexão. É dentro da entidade do espaço interno onde está ancorado esse potencial, no silêncio subjetivo onde ele se alimenta e se desenvolve como a imagem de uma placa fotográfica.
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